domingo, 21 de abril de 2013

Fórum da ONU ressalta valor econômico das florestas


* Ecio Rodrigues
Instituído pela Organização das Nações Unidas em outubro de 2000, no âmbito do Conselho Econômico e Social, o Fórum sobre Florestas esteve reunido do dia 8 ao dia 19 de abril último, em Istambul, na Turquia, para discutir o destino das florestas no mundo e sua importância para o processo de desenvolvimento econômico dos países.
Trata-se da décima reunião desse importante fórum, que avança, prioritariamente, na discussão de duas diretrizes fundamentais. A primeira diretriz reforça a necessidade de os países reconhecerem o valor econômico dos diversos tipos de florestas existentes no mundo. Seja na oferta de sua mais importante matéria-prima, a madeira, seja na oferta dos chamados serviços ambientais, relacionados à quantidade e qualidade da água e do ar, as florestas precisam alcançar maior valor econômico que os usos alternativos do solo.
Entenda-se por usos alternativos do solo o desmatamento das florestas para cultivos de alimentos e, mais recentemente, o cultivo de oleaginosas agrícolas (leia-se soja), destinado à produção de óleo vegetal para queima nos motores a óleo diesel. Há consenso no fato de que, enquanto um hectare de plantio de soja trouxer maior retorno econômico que um hectare com 150 espécies florestais diferentes, o risco de perda de florestas irá ampliar-se de forma exponencial.
A redução do risco de perdas acentuadas de áreas florestais é a segunda diretriz adotada pelo Fórum sobre Florestas da ONU. Ocorre que há no mundo um contingente de “mais de 1,6 bilhão de pessoas que dependem das florestas, incluindo comunidades indígenas”, conforme afirmou o Subsecretário-Geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais, Wu Hongbo, concluindo que “os serviços fornecidos pelas florestas continuam sendo subestimados, desvalorizados e super explorados”.
Continuando, Hongbo considera que “há provas de que tais impactos, originados pelos desmatamentos, dificilmente ficam dentro das fronteiras nacionais”, notando que “frequentemente, as consequências são além-fronteiras”. O que torna o desmatamento um problema mundial.
Não sem razão o tema da décima reunião do Fórum sobre Florestas é “Florestas para o Desenvolvimento Econômico”. A ideia principal é convencer os países a atuar no sentido de promover os seus mercados para ativos florestais e, ao mesmo tempo, tornar mais eficazes os mecanismos de licenciamento e controle dos desmatamentos.
Acredita-se que a estruturação do mercado de carbono irá contribuir para a ampliação da competitividade do ecossistema florestal, do mesmo modo que a cobrança pela água produzida pelos particulares detentores de recursos florestais irá contribuir para melhorar o desempenho comercial das formações florestais, nativas ou plantadas.
Todavia, ainda há um abismo político e tecnológico a ser superado para que a valoração dos ativos florestais venha a ocorrer – o que exige maior atenção de todas as nações. Além de investir na promoção da ciência e da tecnologia destinadas à compreensão da interação que existe entre as formações florestais, o ar e a água, é necessário, sobretudo, instituir sistemas de desestimulo ao uso alternativo do solo por culturas agrícolas.
Atualmente, no mundo, a área de terra que já foi desmatada e que se encontra degradada ou subutilizada seria suficiente para atender à demanda agrícola e de biocombustíveis, sem que houvesse necessidade do desmatamento de novas áreas. Todos reconhecem as dificuldades políticas para taxar os usos alternativos do solo, tendo em vista a influência direta dessa taxação no preço da comida ou do combustível, mas a o incentivo ao uso das áreas já desmatadas é plenamente viável.
A conclusão é uma só: ampliar o valor da floresta na Amazônia é o caminho para resolver a maior mazela econômica da região – o desmatamento.

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

Sexta-Feira 19 encerramento da Rodada de Discussão













segunda-feira, 15 de abril de 2013

Energia elétrica e extrativismo na Amazônia


* Ecio Rodrigues
No Brasil, a definição de um marco Legal para o setor de energia elétrica ocorreu no início dos anos 2000, sob duas diretrizes fundamentais: universalização do acesso e modicidade da tarifa cobrada do consumidor. Assumiu-se como prioridade de política pública que todos os brasileiros deveriam ter acesso à energia elétrica, e que o preço cobrado por essa energia deveria ser o menor possível.
Certamente, as duas diretrizes representam um grande desafio para o país, mas, no caso da Amazônia, esse desafio assume proporções ainda maiores. Com efeito, a Amazônia é a região onde se cobra a tarifa mais cara do país; ademais, o Sistema Interligado Nacional não chega às populações do interior, o que limita o acesso a fontes de energia elétrica.
Acontece que, para que a universalização ocorra, não basta a satisfação de demandas mínimas, que podem ser atendidas, por exemplo, com o fornecimento de energia suficiente para um bico de luz e uma tomada para a televisão. Esse tipo de fornecimento, limitado, já foi tentado na região, mediante a execução de um programa voltado para a geração de energia solar, e que pretendia cumprir a diretriz da universalização para as populações isoladas por meio da distribuição e instalação de placas fotovoltaicas, aptas a reter a energia do sol.
O resultado foi decepcionante. Em primeiro lugar, em função das dificuldades para se manter em funcionamento um sistema caro e que exigia do produtor muita disciplina, já que ele tinha que operar o coletor de energia e a bateria para armazenamento – tudo isso, diga-se, num ambiente em que, por mais incrível que pareça, às vezes, há sol e muitas vezes, não.
Por outro lado, mesmo quando o sistema, em situações excepcionais, funcionava adequadamente, a energia ofertada não tinha potência para possibilitar o desenvolvimento de atividades produtivas que beneficiassem a dinâmica econômica local – o que, por sua vez, poderia levar à melhora da qualidade de vida das famílias e ao consequente aumento do IDH. No final das contas, o que o sistema garantia, de fato, era o funcionamento de uma TV para assistir-se às novelas.
Com o fim do programa, outra experiência chegou a ser engendrada, a fim de resolver o problema da oferta de energia elétrica para comunidades isoladas na Amazônia. Numa ação conjunta, os Ministérios do Meio Ambiente e das Minas e Energia instituíram o Programa Nacional de Energia e Extrativismo, conhecido pela sigla Pnaeex, uma iniciativa que, infelizmente, foi abortada ainda no nascedouro, em 2003.
Admitindo a impossibilidade de fornecer-se energia solar ou eólica às comunidades isoladas, o Pnaeex previa a geração de energia elétrica por meio de termoelétricas movidas a óleo de espécies florestais.
O raciocínio era o de que, num município como o longínquo Jordão, no Acre, é possível encontrar-se a tipologia de floresta aberta com palmeira, que pode garantir a oferta natural de óleos florestais por meio da tecnologia do manejo florestal.
Todavia, queimar o óleo florestal em motores movidos a diesel não é tarefa fácil. Há duas possibilidades: ou se modifica o motor, ou se modifica o óleo florestal. No primeiro caso, já existem experimentos internacionais com motores que possuem uma pré-câmara para o aquecimento do óleo florestal e a quebra das cadeias longas de carbono, o que permitiria a combustão, como ocorre com o óleo diesel.
A segunda opção é a chamada transesterificação. Trata-se da quebra química das cadeias de carbono do óleo florestal, mediante a adição de etanol, que, por sua vez, pode ser produzido com o plantio de cana-de-açúcar – embora o plantio de cana sempre esteja associado ao risco de ocorrência de impactos ambientais.
Enfim, levar energia elétrica para os amazônidas dispersos no interior do ecossistema florestal ainda é um desafio a ser vencido.
  
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 14 de abril de 2013

Rodada de discussão sobre biomassa florestal e energia elétrica na Amazônia


* Ecio Rodrigues
Desde que se iniciaram os debates acerca da construção das hidrelétricas no rio Madeira, os envolvidos com o setor florestal no Acre estudam a possibilidade de esse setor ingressar no influente mercado abrangido pela geração e distribuição de energia elétrica na Amazônia.
Acontece que, num lugar como o Acre – onde, a despeito do calor que faz, não há sol suficiente para a geração de energia solar; tampouco não há vento na quantidade requerida pelos cata-ventos da energia eólica; e, por fim, os rios não possuem vazão e queda altimétrica aceitáveis para a construção de hidrelétricas –, o emprego da biomassa florestal surge com grande potencial para a geração de energia elétrica.
Reforçam essa tese três constatações: o fato de que 86% do território estadual possuem cobertura florestal nativa; a quantidade de solos precariamente aproveitada pela produção pecuária; e, o mais importante, a característica sustentável da produção de energia elétrica por biomassa florestal, decorrente do balanço zero em relação ao carbono depositado na atmosfera.
A idéia é produzir energia elétrica mediante a queima de biomassa florestal em caldeiras. Incluem-se no rol de matérias-primas ou subprodutos denominados de biomassa florestal o pó de serra e as aparas de madeira que derivam em grande quantidade do processo de industrialização da madeira. Esses materiais, até bem pouco tempo, eram queimados a céu aberto – procedimento que, por sinal, levava as empresas a serem invariavelmente autuadas pelos órgãos de fiscalização ambiental.
O descarte dos materiais que eram considerados “resíduos da produção florestal” sempre constituiu um verdadeiro transtorno para as empresas do ramo do processamento da madeira. Mesmo com o reforço das atividades ceramistas, que precisam das aparas de madeira para acender os fornos de secagem de tijolos, as serrarias não conseguiam resolver o problema da destinação de todo o resíduo produzido.
O termo biomassa florestal inclui também outros subprodutos madeireiros que atualmente são desaproveitados. As galhadas das árvores exploradas, por exemplo, que podem possuir mais metros cúbicos de madeira que a própria tora levada para a indústria, são abandonadas nas unidades de produção, o que significa desperdício e baixa produtividade.
Além da madeira, há ainda mais um importante produto florestal que pode ser empregado na queima de biomassa em caldeiras: o ouriço da castanha-do-brasil. A atividade de coleta das amêndoas deixa no interior da floresta uma quantidade expressiva de ouriços que possuem alto poder calorífico, ou seja, são bons para produzir calor.
Uma aritmética fácil permite uma ideia do desperdício. No Acre, as estatísticas oficiais, que não contabilizam nem a castanha consumida pelas famílias no interior da floresta e nos ramais, nem a produção vendida diretamente aos bolivianos pelos rios e igarapés, dão conta de uma produção estimada em 14 mil toneladas de castanha, apenas no ano de 2011.
Não há dúvida, portanto, de que a oferta do produto energia elétrica irá movimentar o setor florestal na região pelos próximos 20 anos – em face, sobretudo, da significativa participação dessa receita na composição do fluxo de caixa das empresas.
Diante disso, um processo permanente de discussão sobre o tema vem sendo organizado por um grupo de acadêmicos em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre, que pretende avaliar os impactos econômicos, ecológicos e sociais advindos da geração de energia elétrica com o emprego de biomassa florestal.
Por meio da realização de Rodadas de Discussão, pretende-se formular estratégias para a entrada do Acre nesse novo e alvissareiro mercado.

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Amazônia deve se preparar para nova matriz energética


* Ecio Rodrigues
A Amazônia sempre teve papel proeminente na matriz nacional de energia elétrica, já que 70% da energia gerada no Brasil são provenientes de hidrelétricas. Agora, a região deve se preparar para as inovações que advirão, diante da imposição legal de universalização do atendimento.
Ocorre que, se por um lado, a construção de hidrelétricas tem importância significativa na produção de riqueza na região – seja durante a obra, seja no período de tempo indeterminado de produção de energia elétrica –, por outro lado, o aproveitamento da força das águas encontra limitações para o atendimento das populações isoladas.
A despeito das diversas definições conferidas ao termo “comunidades isoladas”, essas populações têm em comum a condição de não dispor de acesso ao Sistema Interligado Nacional, SIN; por essa razão, dependem da energia elétrica gerada nas proximidades de sua localização.
Essas populações não têm acesso ao SIN porque o transporte do produto energia elétrica até a respectiva comunidade isolada é mais caro que a instalação de alguma fonte de geração na própria localidade. Em tal contexto, portanto, a busca por opções de geração de energia adequadas ao potencial existente em cada localidade se torna uma prioridade para a política pública.
Onde ocorrer suficiente força de vento – como no caso do litoral do Amapá –, deverá ser dada primazia ao aproveitamento da energia eólica, oriunda da velocidade e permanência dos ventos, de forma independente ou conjugada com outras fontes.
Da mesma forma, nos locais onde eventualmente houver sol em quantidade e periodicidade satisfatórias, a preferência deverá ser pelo emprego da energia solar, em conjunto com outras fontes.
E, finalmente, num estado como o Acre, onde não há vento e sol com potencial de aproveitamento, mas existe biomassa florestal em quantidade passível de ser manejada para queima em caldeiras e geração de energia elétrica, essa fonte – que é adequada aos ideais de sustentabilidade como o são a solar e a eólica – deve ser objeto de prioridade pública.
É bem provável, por sinal, que a biomassa florestal seja a fonte de energia elétrica mais abundante na região. Além da fartura de biomassa florestal, a outra boa notícia é que já existe tecnologia apta a possibilitar tanto a produção florestal de matéria-prima para a queima quanto a construção das caldeiras.
Vale dizer, em termos tecnológicos, não há empecilhos que obstem o aproveitamento da biomassa florestal para a geração de energia elétrica.
Afora sua extraordinária importância para o atendimento das populações isoladas, a queima da biomassa florestal para fins energéticos surge também como importante atividade econômica, na medida em que a energia elétrica produzida pode ser vendida ao SIN.
De fato, mesmo com a construção de novas hidrelétricas, a demanda crescente por energia elétrica tornará a oferta desse produto um excelente negócio pelos próximos 20 anos, no mínimo. O que significa dizer que os produtores que puderem gerar energia elétrica, pelas características próprias de sua atividade produtiva, certamente irão entrar nesse negócio.
Por fim, a geração de energia elétrica por meio da biomassa florestal possui um diferencial frente às outras fontes, que merece atenção da política pública: o potencial para criar e consolidar um conjunto de atividades econômicas em cascata.
A produção de energia elétrica com biomassa florestal solidifica aglomerados econômicos num setor produtivo novo e sustentável. Melhor, impossível.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Linha Temática 3: Fontes alternativas de energia para comunidades isoladas no estado do Acre e para a Amazônia.


Coordenador: Moises Lobão,

Contextualização

A energia é fator essencial ao desenvolvimento social e econômico de uma região ou país. A qualidade de vida que dela resulta possibilita realizar desde tarefas mais simples até trabalhos que possibilitam a geração de renda para pessoas e comunidades inteiras. Porém, há muitas comunidades que não usufruem dos benefícios do acesso à energia no Brasil, em especial na Amazônia.
Portanto, um dos grandes problemas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia é a dificuldade do fornecimento de energia às comunidades isoladas. Esse problema tem sido um obstáculo considerável para o desenvolvimento das atividades produtivas dessas comunidades, sobretudo as que utilizam o modo extrativista de produção como sua fonte de renda.
As comunidades isoladas apresentam baixos índices de eletrificação em razão do modelo de fornecimento de energia elétrica implantado em nosso pais, pois a extensão da rede para atendimento de poucos consumidores é, geralmente, econômica e ambientalmente inviável.
Por este motivo, a população utiliza pequenos geradores movidos a diesel ou gasolina para geração de energia elétrica, o que também é inviável devido ao elevado custo do combustível, considerando o frágil orçamento dessas comunidades. Uma opção para esta parcela da população é gerar energia elétrica a partir de combustível disponível na sua unidade produtiva e de maneira sustentável.
Várias alternativas de geração de energia em pequenas comunidades isoladas vem sendo testadas para resolver ou pelo menos amenizar estes problemas, porém essas experiências têm mostrado várias limitações como seu alto custo de implantação, geração, transmissão e distribuição de energia hidroelétrica que inviabilizam quaisquer iniciativas em pequena escala.
Outras experiências como o uso de placas de energia solar, geradores movidos a biodiesel, entre outras, tem se mostrado inviáveis devido a barreiras ambientais, econômicas, sociais e culturais existentes nessas comunidades.
Porém, cresce a expectativa de se gerar energia nessas comunidades a partir de combustível disponível localmente e de maneira sustentável na Amazônia, e uma das fontes de matéria prima para geração de energia que ganha força é o aproveitamento de resíduos da biomassa florestal.
Afinal, nas comunidades isoladas da Amazônia a biomassa florestal está disponível em grande quantidade, pois é dela que advém a fonte de renda dessa população, que normalmente extrai madeira e outros produtos florestais gerando grande quantidade de resíduos que muitas vezes são queimados a céu aberto ou descartados nos rios.
Este problema de passivo ambiental existente nessas comunidades devido à disposição inadequada dos resíduos florestais poderá ser solucionado com essa alternativa de conversão desses resíduos em energia alternativa, gerando emprego local e melhorando a renda da comunidade e seus indicadores sociais e econômicos.
A combustão ou queima direta é a forma mais tradicional de uso da energia da biomassa, porém, a gaseificação e a pirólise são processos termoquímicos que recebem especial atenção. Porém são grandes os desafios para possibilitar estes usos, já que há ainda poucas pesquisas em relação a caracterização da biomassa que é heterogênea e muito diversa, tendo desde resíduos da exploração madeireira (copa, galhos, ramos), cascas e demais resíduos como as tortas advindas da extração dos óleos das amêndoas de oleaginosas existentes localmente.
Pesquisas sobre as novas tecnologias de conversão da biomassa em combustíveis líquidos, sólidos e gasosos de alto valor agregado, têm, atualmente, despertado interesse mundial, porém o investimento de recursos para pesquisa e desenvolvimento ainda é insuficiente, sendo necessário políticas de C&T que promovam o incentivo a esses tipos de inciativas.
Portanto, vê-se a necessidade de reunir grandes especialistas na área para realizar uma discussão sobre as diferentes tecnologias existentes e possíveis pesquisas que possam viabilizar o uso da biomassa para geração de energia nessas comunidades do Acre.
Nesse sentido, algumas questões devem ser discutidas na Rodada de Discussão sobre Biomassa e Energia Elétrica na Amazônia:
1)           Qual é a alternativa mais adequada para desenvolver e expandir o setor elétrico na Amazônia: integrar-se ao Sistema Interligado Nacional (SIN) ou investir em sistemas isolados?
a.            Quais são os impactos econômicos, ambientais e sociais de ambos os sistemas?
2) Quais são os entraves à implantação de sistemas isolados eficazes na Amazônia, e especialmente no Acre?
3) Como se pode avaliar a utilização da biomassa florestal como fontes de energia?
a. É possível aliar conservação ambiental à eficiência energética e à lógica do lucro imediato?
4) A arrecadação gerada pela CCC (Conta de Compensação de Combustíveis) ainda representa a melhor forma de investimento nos sistemas isolados?
a. Como incrementar essa iniciativa que também incentiva a utilização de outras fontes de geração de energia elétrica?
5) A Amazônia é rica em recursos florestais, no entanto, consegue pouco proveito para geração de energia. Que entraves políticos, econômicos e ambientais impedem reverter esse quadro?
6) Quais cuidados devem ser assumidos na aquisição de equipamentos e desenvolvimento de tecnologias adequadas à realidade de populações isoladas?
7) Em relação à distância entre matéria prima e o local de geração de energia elétrica, quais inconvenientes (volume, perigos de contaminação, etc) podem haver dependendo do tipo de biomassa florestal que será utilizada na geração?
8) Há limite mínimo do poder calorifico e outras propriedades energéticas da matéria prima a ser utilizada, que pode viabilizar ou não a geração de energia elétrica com biomassa florestal?
9) Com relação ao aquecimento, há possibilidades de usar mecanismos que facilitem o processo de inicialização da ignição, queima, aquecimento e conversão da biomassa florestal?
10) Que entraves culturais pode existir nas comunidades isoladas da Amazônia e que dificultem a implantação de sistemas alternativos de geração de energia elétrica nesses locais?

Linha temática 2: Produção comercial de energia elétrica a partir da queima de pó-de-serra, aparas, ouriços de castanha e outros, em indústrias florestais.


Coordenador: Ecio Rodrigues, ecio@ufac.br

Contextualização:
                É inegável que o país passa por um balanço perigoso entre oferta e demanda de energia elétrica. Depois do apagão ocorrido no final da década de 1990 esperava-se que um planejamento mais eficiente da matriz energética nacional afastasse de vez, os riscos de quedas de oferta de energia elétrica, mas isso não aconteceu.
Independente dos solavancos no fornecimento de energia, que os governos nas suas defensivas costumam taxar como ocasional e resultado de eventos climáticos imprevisíveis ou ainda, como mais recentemente, por falha humana, o fato é que a planta industrial atual para geração de energia elétrica não consegue sustentar um crescimento do Produto Interno Bruto da ordem de 5%, que seria o mínimo esperado para uma economia como a brasileira.
Ampliar a oferta de energia elétrica se transformou em imperativo de ordem pública e privada nos últimos 10 anos. Está em curso um esforço concentrado para ampliar, no curtíssimo prazo, a quantidade de energia elétrica gerada, que pode ser oriunda de todas as fontes possíveis, segundo as possibilidades de cada região geográfica.
A legislação sobre o setor elétrico estabeleceu como meta a universalização do atendimento com energia elétrica a toda população. Ou seja, nenhum brasileiro poderá ficar sem acesso à energia elétrica quer esteja vivendo no interior da floresta na Amazônia ou em uma favela no Rio de Janeiro. Outra diretriz estabelecida diz respeito à modicidade tarifária, o que significa dizer que todos devem ter energia elétrica ao menor preço possível.
O marco regulatório do setor elétrico, elaborado e aprovado ainda em 2004, procurou priorizar a integração de todas as regiões no que se chamou de Sistema Integrado Nacional, o SIN, no popular chamado de Linhão, onde qualquer produtor e consumidor de energia elétrica com acesso ao SIN podem, ao mesmo tempo, fornecer e consumir energia elétrica do sistema.
A possibilidade de se vender energia elétrica para o SIN vem transformando o setor elétrico de forma surpreendente. Ocorre que toda geração de energia que possa ser produzida de forma rentável, segundo uma curva de oferta e demanda, poderá entrar nesse mercado e usufruir dessa nova alternativa comercial.
Nesse contexto, as indústrias que tinham por missão a produção de algum bem que utilizava matéria-prima de origem florestal, o que conseqüentemente gerava um resíduo com poder calorífico, adquiriu naturalmente potencial para adentrar nesse promissor mercado. Assim indústrias de móveis, de compensados, de laminados ou até mesmo as simples serrarias de antigamente, podem, com a queima do pó-de-serra e de aparas, que sobram da sua produção, ofertar energia elétrica para o SIN.
Essa oferta de energia a partir da queima das sobras da produção principal vem crescendo sua participação na composição da renda bruta das empresas, ano após ano, a taxas animadoras.
Uma vez que o setor florestal pode se transformar em importante fornecedor de energia elétrica, a Amazônia, região onde se encontra a imensa maioria das florestas nacionais, amplia seu importante papel estratégico na oferta de energia elétrica, indo além das contestáveis e, ao mesmo tempo, consagradas hidrelétricas ao entrar no ciclo virtuoso da geração de energia elétrica, a partir de biomassa florestal.

E no Acre:
                Priorizar a geração de energia elétrica nos estados amazônicos nos quais existe potencial comprovado para aproveitamento der outras fontes não será tarefa fácil. No Pará e em Rondônia, por exemplo, onde há um vasto caminho para instalação de hidrelétricas e dadas as dimensões que o investimento no aproveitamento da força das águas exige, pensar em fontes como a biomassa florestal pode parecer devaneio.
                Por outro lado, em regiões onde a geração de energia elétrica, por meio das águas, dos ventos e do sol é comprometida por razões naturais, restaria a opção única de se continuar gerando energia elétrica com a queima de óleo diesel, ou partir para outro tipo de combustível, no caso a biomassa florestal.
                No Acre não há rios com vazão e desnível suficientes para a instalação de hidrelétricas. O vento, por sua vez, não circula em velocidade suficiente para mover os cataventos dos parques eólicos que enfeitam a paisagem do nordeste. Apesar de o calor ser quase insuportável, o sol não aparece em quantidade e na qualidade demandada pelos painéis fotovoltaicos que captam a energia solar.
                Com alternativas restritas, o Acre possui opções igualmente restritas, a não ser a geração de energia elétrica com a queima de combustíveis, que podem ser fósseis (como o óleo diesel que se pretende banir) ou renováveis como a biomassa florestal, que além de abundante pode ser produzida de forma sustentável.
                No entanto, para se planejar a entrada da biomassa florestal na geração de energia elétrica, na escala que a quantidade existente dessa biomassa pode ofertar será necessário que os agentes públicos, os acadêmicos, pesquisadores e a iniciativa privada se debrucem na busca de respostas para uma série de questões.

Questões para a rodada de discussão:
1.       A quantidade de pó-de-serra e aparas oriundas do processo produtivo nas indústrias de base florestal são suficientes para gerar energia elétrica, na quantidade demandada pelas cidades do interior e pela capital Rio Branco?

2.       Os custos relacionados à coleta e transporte de ouriço ou sobras do processo de exploração de árvores no interior da floresta, são compatíveis com a renda obtida na venda da energia elétrica?

3.       As indústrias florestais precisam investir muito na compra da caldeira e na sua adequação para fornecer o novo produto: energia elétrica. O balanço é favorável?

4.       Caldeiras com maior eficiência energética, disponíveis no mercado, conseguem um rendimento favorável em termos de calor queimado e energia produzida?

5.       A preparação prévia da biomassa florestal, na forma de briquetes, por exemplo, melhora a eficiência energética no momento da queima na caldeira?     

Linha Temática I CULTIVOS FLORESTAIS PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA


Ary Vieira de Paiva
Email: arypaiva1@yahoo.com.br

A matriz energética brasileira  é essencialmente hidrelétrica, somando  77,6%  do total, seguida pela geração térmica com 13,9% , termonuclear 1,7%, eólica 1,7%, outros 5,1%.
Dentro da geração a partir da biomassa, temos 5,8% da energia total gerada no país  a partir do  bagaço de cana, 0,99 % do licor negro, 0,3 % de madeira, 0,06% de biogás e 0,03 de casca de arroz (fonte: Aneel , 2012).
Com a necessidade e expansão da capacidade instalada para atender a uma economia crescente e considerando serem as reservas de petróleo finitas e as limitações da expansão do parque gerador hidrelétrico no Brasil, é inevitável  que mudanças ocorram em sua matriz.
O quadro atual aponta para a necessidade do incremento das fontes de energia renováveis, dentre elas o da geração térmica a partir da biomassa florestal, ainda com uma participação muito pequena.
Existem vários modelos matemáticos que simulam a viabilidade de cultivos florestais como nova opção de energia, inclusive contemplando a possibilidade de cultivos de espécies diversificadas.
Pode-se afirmar   pelo estudo da dendroenergia ( processo da fotossíntese), que sejam produzidas anualmente no planeta cerca de 2 x 1011 toneladas de biomassa, com potencial energético equivalente entre 2 e 3 x 1015 MJ/ano, valor que corresponde a mais de 50 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo – ou seja, no mínimo cinco vezes o atual consumo de energia do planeta, de 10.579 Mtep (milhões de toneladas equivalente de petróleo) em 2003. Esses números servem para mostrar o potencial oferecido pela biomassa, que se constitui numa opção energética promotora da sustentabilidade ambiental, ainda que sub-aproveitada diante das atuais alternativas fósseis, segundo Gomes et al (2006). Os mesmos autores concluiram neste mesmo artigo, com base nos dados obtidos pelo modelo por eles proposto, que  a opção energética apresentada mostra-se viável e com bons indicativos em prol da conquista de uma matriz energética renovável e sustentável, tanto ecológica quanto socialmente.
O Brasil possui a maior produtividade mundial de madeira por ha, com 45 m3 /ha/ano, ao passo que a África do sul e Chile ficam em 20 e Espanha 15, ainda devendo considerar um período de rotação de 7 anos no Brasil e de mais de 10 anos nos outros países produtores. Também dispõe de extensas áreas desflorestadas e degradadas com grande potencial para produção de biomassa florestal em grande escala. Somente em pastagens degradadas conta com aproximadamente 90 milhões de ha (50% das pastagens) , parte do que poderia ser utilizada para a produção de madeira.
O Estado do Acre possui mais de 2 milhões de ha de áreas com pastagens encontradas principalmente no vale do rio Acre, na região leste, onde, seguindo a porcentagem de pastagens degradas no Brasil, somaria aproximadamente 1 milhão de ha, sendo  parte destes com potencial para silvicultura. As condições edafoclimáticas desta região, apontam grandes potencialidades para o cultivo de árvores tropicais.
PERGUNTAS:
1.      É sutentável a geração de energia a partir de biomassa florestal no Brasil? E no Acre?
2.      As condições edafoclimáticas do estado do Acre são adequadas à silvicultra?
3.      Há área suficiente para silvicultura em escala para atender à demanda no Acre?
4.      Existe a possibilidade de aproveitamento da lenha oriunda de planos de manejo ou de áreas com corte raso da floresta legalmente autorizada para geração de energia elétrica?
5.      Qual seria este potencial para uso imediato?





GOMES, S, I; PARAISO, P. R; ANDRADE, C. M. G. Análise Preliminar da Viabilidade de Cultivos Florestais para Produção de Energia Elétrica.  Curitiba,  Espaço Energia, Edição número 04 – Agosto 2006.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Petróleo pode ser melhor que álcool na Amazônia



Ecio Rodrigues - ecio@ufac.br

O álcool tem sido apontado como alternativa  energética prioritária ao petróleo. Principalmente  quando o assunto é a queima em automóveis, o  combustível extraído da cana-de-açúcar surge como opção estratégica para a era dos biocombustíveis, que vai substituir a era do petróleo,  que, por mais que alguns neguem, tem data para acabar.
Com relação ao tema da prospecção de  petróleo e gás na Amazônia, é possível, inclusive, que a Petrobrás esteja reavaliando suas antigas  prospecções justamente por isso. A redução da oferta elevou os preços do 
petróleo a um patamar acima  dos 60 dólares o barril. Esse preço aufere viabilidade econômica para jazidas jamais  cogitadas quando os níveis de  preço não ultrapassavam a casa dos U$ 30. O que, esclareça-se, ainda não quer  dizer que haja possibilidade dessa condição de oferta e demanda ocorrer no Acre.
O assédio dos americanos  para acessar a tecnologia de  produção do etanol à base de  cana é um exemplo concreto de que uma nova geopolítica internacional tende a se formar com a era dos biocombustíveis. Os argumentos estratégicos alegados pelo governo americano, que se resumem em sair da dependência do petróleo venezuelano e, claro, do temperamental Chavez, confundem-se com a eventual importância ambiental do álcool. 
Um tanto sem graça, os americanos, que até  hoje não assinaram o Protocolo de Kioto e, o que é mais grave, perderam ambiente político para rever  sua posição, esforçam-se em demonstrar que o lado da sustentabilidade ambiental do álcool seria um  ingrediente a mais na sua, já citada, importância  estratégica.
No entanto, os responsáveis pela área  ambiental da própria Organização das Nações  Unidas já alertaram, em relatório oficial, que não é  bem assim. A substituição do petróleo, que é o maior responsável pelo efeito estufa e pelo aquecimento global, por qualquer outro combustível  é sempre bem vinda. Todavia, é possível que, do  ponto de vista da sustentabilidade, o álcool seja a pior das alternativas.
Ocorre que, apesar de o álcool de certa  maneira equilibrar a quantidade de fumaça, pois que lança carbono na atmosfera, ao ser queimado nos  veículos, e retira, quando a cana cresce e assimila  carbono, o seu ciclo produtivo é, por assim dizer, de  elevadas e desastradas conseqüências ambientais.
Trata-se, afinal, de um produto do agronegócio - da mesma forma que a carne de gado, a soja, o algodão, o milho e outros -, que precisa ser  produzido em elevadas escalas, com baixíssimos custos de produção por unidade de área. A cana-deaçúcar está para o álcool como a soja para o  biodiesel. Não são produtos 
para a pequena agricultura  ou para a agricultura familiar. Muito menos para serem produzidos sem altíssima tecnificação e mecanização.
Há dois únicos argumentos a que têm se apegado os defensores do  agronegócio. O primeiro é o  de que a produção do biocombustível não elevaria  o preço da cana e da soja usada para a alimentação. O que contradiz os mais elementares princípios da economia. 
O segundo é o de que os plantios seriam  realizados em áreas erodidas, degradadas e abandonadas pela pecuária nefasta. Ou seja, seriam  realizados nas áreas de capoeira, que são florestas em formação. 
Capoeiras são áreas onde as árvores estão começando a se firmar e que se transformam em  floresta secundária. Isto é, a valer o segundo  argumento, o fim das capoeiras seria inevitável, o  que significará, mais adiante, ampliação do  desmatamento, o que ninguém no mundo tolera.  Pensando bem, talvez a Amazônia
estivesse melhor com o petróleo.