terça-feira, 9 de abril de 2013

Petróleo pode ser melhor que álcool na Amazônia



Ecio Rodrigues - ecio@ufac.br

O álcool tem sido apontado como alternativa  energética prioritária ao petróleo. Principalmente  quando o assunto é a queima em automóveis, o  combustível extraído da cana-de-açúcar surge como opção estratégica para a era dos biocombustíveis, que vai substituir a era do petróleo,  que, por mais que alguns neguem, tem data para acabar.
Com relação ao tema da prospecção de  petróleo e gás na Amazônia, é possível, inclusive, que a Petrobrás esteja reavaliando suas antigas  prospecções justamente por isso. A redução da oferta elevou os preços do 
petróleo a um patamar acima  dos 60 dólares o barril. Esse preço aufere viabilidade econômica para jazidas jamais  cogitadas quando os níveis de  preço não ultrapassavam a casa dos U$ 30. O que, esclareça-se, ainda não quer  dizer que haja possibilidade dessa condição de oferta e demanda ocorrer no Acre.
O assédio dos americanos  para acessar a tecnologia de  produção do etanol à base de  cana é um exemplo concreto de que uma nova geopolítica internacional tende a se formar com a era dos biocombustíveis. Os argumentos estratégicos alegados pelo governo americano, que se resumem em sair da dependência do petróleo venezuelano e, claro, do temperamental Chavez, confundem-se com a eventual importância ambiental do álcool. 
Um tanto sem graça, os americanos, que até  hoje não assinaram o Protocolo de Kioto e, o que é mais grave, perderam ambiente político para rever  sua posição, esforçam-se em demonstrar que o lado da sustentabilidade ambiental do álcool seria um  ingrediente a mais na sua, já citada, importância  estratégica.
No entanto, os responsáveis pela área  ambiental da própria Organização das Nações  Unidas já alertaram, em relatório oficial, que não é  bem assim. A substituição do petróleo, que é o maior responsável pelo efeito estufa e pelo aquecimento global, por qualquer outro combustível  é sempre bem vinda. Todavia, é possível que, do  ponto de vista da sustentabilidade, o álcool seja a pior das alternativas.
Ocorre que, apesar de o álcool de certa  maneira equilibrar a quantidade de fumaça, pois que lança carbono na atmosfera, ao ser queimado nos  veículos, e retira, quando a cana cresce e assimila  carbono, o seu ciclo produtivo é, por assim dizer, de  elevadas e desastradas conseqüências ambientais.
Trata-se, afinal, de um produto do agronegócio - da mesma forma que a carne de gado, a soja, o algodão, o milho e outros -, que precisa ser  produzido em elevadas escalas, com baixíssimos custos de produção por unidade de área. A cana-deaçúcar está para o álcool como a soja para o  biodiesel. Não são produtos 
para a pequena agricultura  ou para a agricultura familiar. Muito menos para serem produzidos sem altíssima tecnificação e mecanização.
Há dois únicos argumentos a que têm se apegado os defensores do  agronegócio. O primeiro é o  de que a produção do biocombustível não elevaria  o preço da cana e da soja usada para a alimentação. O que contradiz os mais elementares princípios da economia. 
O segundo é o de que os plantios seriam  realizados em áreas erodidas, degradadas e abandonadas pela pecuária nefasta. Ou seja, seriam  realizados nas áreas de capoeira, que são florestas em formação. 
Capoeiras são áreas onde as árvores estão começando a se firmar e que se transformam em  floresta secundária. Isto é, a valer o segundo  argumento, o fim das capoeiras seria inevitável, o  que significará, mais adiante, ampliação do  desmatamento, o que ninguém no mundo tolera.  Pensando bem, talvez a Amazônia
estivesse melhor com o petróleo.

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