Coordenador:
Ecio Rodrigues, ecio@ufac.br
Contextualização:
É
inegável que o país passa por um balanço perigoso entre oferta e demanda de
energia elétrica. Depois do apagão ocorrido no final da década de 1990
esperava-se que um planejamento mais eficiente da matriz energética nacional
afastasse de vez, os riscos de quedas de oferta de energia elétrica, mas isso
não aconteceu.
Independente dos solavancos no
fornecimento de energia, que os governos nas suas defensivas costumam taxar
como ocasional e resultado de eventos climáticos imprevisíveis ou ainda, como
mais recentemente, por falha humana, o fato é que a planta industrial atual
para geração de energia elétrica não consegue sustentar um crescimento do
Produto Interno Bruto da ordem de 5%, que seria o mínimo esperado para uma economia
como a brasileira.
Ampliar a oferta de energia
elétrica se transformou em imperativo de ordem pública e privada nos últimos 10
anos. Está em curso um esforço concentrado para ampliar, no curtíssimo prazo, a
quantidade de energia elétrica gerada, que pode ser oriunda de todas as fontes
possíveis, segundo as possibilidades de cada região geográfica.
A legislação sobre o setor
elétrico estabeleceu como meta a universalização do atendimento com energia
elétrica a toda população. Ou seja, nenhum brasileiro poderá ficar sem acesso à
energia elétrica quer esteja vivendo no interior da floresta na Amazônia ou em
uma favela no Rio de Janeiro. Outra diretriz estabelecida diz respeito à
modicidade tarifária, o que significa dizer que todos devem ter energia
elétrica ao menor preço possível.
O marco regulatório do setor
elétrico, elaborado e aprovado ainda em 2004, procurou priorizar a integração
de todas as regiões no que se chamou de Sistema Integrado Nacional, o SIN, no
popular chamado de Linhão, onde qualquer produtor e consumidor de energia
elétrica com acesso ao SIN podem, ao mesmo tempo, fornecer e consumir energia
elétrica do sistema.
A possibilidade de se vender
energia elétrica para o SIN vem transformando o setor elétrico de forma surpreendente.
Ocorre que toda geração de energia que possa ser produzida de forma rentável,
segundo uma curva de oferta e demanda, poderá entrar nesse mercado e usufruir
dessa nova alternativa comercial.
Nesse contexto, as indústrias que
tinham por missão a produção de algum bem que utilizava matéria-prima de origem
florestal, o que conseqüentemente gerava um resíduo com poder calorífico,
adquiriu naturalmente potencial para adentrar nesse promissor mercado. Assim
indústrias de móveis, de compensados, de laminados ou até mesmo as simples
serrarias de antigamente, podem, com a queima do pó-de-serra e de aparas, que
sobram da sua produção, ofertar energia elétrica para o SIN.
Essa oferta de energia a partir
da queima das sobras da produção principal vem crescendo sua participação na
composição da renda bruta das empresas, ano após ano, a taxas animadoras.
Uma vez que o setor florestal
pode se transformar em importante fornecedor de energia elétrica, a Amazônia,
região onde se encontra a imensa maioria das florestas nacionais, amplia seu
importante papel estratégico na oferta de energia elétrica, indo além das
contestáveis e, ao mesmo tempo, consagradas hidrelétricas ao entrar no ciclo virtuoso
da geração de energia elétrica, a partir de biomassa florestal.
E
no Acre:
Priorizar
a geração de energia elétrica nos estados amazônicos nos quais existe potencial
comprovado para aproveitamento der outras fontes não será tarefa fácil. No Pará
e em Rondônia, por exemplo, onde há um vasto caminho para instalação de
hidrelétricas e dadas as dimensões que o investimento no aproveitamento da
força das águas exige, pensar em fontes como a biomassa florestal pode parecer
devaneio.
Por
outro lado, em regiões onde a geração de energia elétrica, por meio das águas,
dos ventos e do sol é comprometida por razões naturais, restaria a opção única
de se continuar gerando energia elétrica com a queima de óleo diesel, ou partir
para outro tipo de combustível, no caso a biomassa florestal.
No
Acre não há rios com vazão e desnível suficientes para a instalação de
hidrelétricas. O vento, por sua vez, não circula em velocidade suficiente para
mover os cataventos dos parques eólicos que enfeitam a paisagem do nordeste.
Apesar de o calor ser quase insuportável, o sol não aparece em quantidade e na
qualidade demandada pelos painéis fotovoltaicos que captam a energia solar.
Com
alternativas restritas, o Acre possui opções igualmente restritas, a não ser a
geração de energia elétrica com a queima de combustíveis, que podem ser fósseis
(como o óleo diesel que se pretende banir) ou renováveis como a biomassa
florestal, que além de abundante pode ser produzida de forma sustentável.
No
entanto, para se planejar a entrada da biomassa florestal na geração de energia
elétrica, na escala que a quantidade existente dessa biomassa pode ofertar será
necessário que os agentes públicos, os acadêmicos, pesquisadores e a iniciativa
privada se debrucem na busca de respostas para uma série de questões.
Questões
para a rodada de discussão:
1. A
quantidade de pó-de-serra e aparas oriundas do processo produtivo nas
indústrias de base florestal são suficientes para gerar energia elétrica, na
quantidade demandada pelas cidades do interior e pela capital Rio Branco?
2. Os
custos relacionados à coleta e transporte de ouriço ou sobras do processo de
exploração de árvores no interior da floresta, são compatíveis com a renda
obtida na venda da energia elétrica?
3. As
indústrias florestais precisam investir muito na compra da caldeira e na sua
adequação para fornecer o novo produto: energia elétrica. O balanço é
favorável?
4. Caldeiras
com maior eficiência energética, disponíveis no mercado, conseguem um
rendimento favorável em termos de calor queimado e energia produzida?
5. A
preparação prévia da biomassa florestal, na forma de briquetes, por exemplo,
melhora a eficiência energética no momento da queima na caldeira?
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