quarta-feira, 10 de abril de 2013

Linha temática 2: Produção comercial de energia elétrica a partir da queima de pó-de-serra, aparas, ouriços de castanha e outros, em indústrias florestais.


Coordenador: Ecio Rodrigues, ecio@ufac.br

Contextualização:
                É inegável que o país passa por um balanço perigoso entre oferta e demanda de energia elétrica. Depois do apagão ocorrido no final da década de 1990 esperava-se que um planejamento mais eficiente da matriz energética nacional afastasse de vez, os riscos de quedas de oferta de energia elétrica, mas isso não aconteceu.
Independente dos solavancos no fornecimento de energia, que os governos nas suas defensivas costumam taxar como ocasional e resultado de eventos climáticos imprevisíveis ou ainda, como mais recentemente, por falha humana, o fato é que a planta industrial atual para geração de energia elétrica não consegue sustentar um crescimento do Produto Interno Bruto da ordem de 5%, que seria o mínimo esperado para uma economia como a brasileira.
Ampliar a oferta de energia elétrica se transformou em imperativo de ordem pública e privada nos últimos 10 anos. Está em curso um esforço concentrado para ampliar, no curtíssimo prazo, a quantidade de energia elétrica gerada, que pode ser oriunda de todas as fontes possíveis, segundo as possibilidades de cada região geográfica.
A legislação sobre o setor elétrico estabeleceu como meta a universalização do atendimento com energia elétrica a toda população. Ou seja, nenhum brasileiro poderá ficar sem acesso à energia elétrica quer esteja vivendo no interior da floresta na Amazônia ou em uma favela no Rio de Janeiro. Outra diretriz estabelecida diz respeito à modicidade tarifária, o que significa dizer que todos devem ter energia elétrica ao menor preço possível.
O marco regulatório do setor elétrico, elaborado e aprovado ainda em 2004, procurou priorizar a integração de todas as regiões no que se chamou de Sistema Integrado Nacional, o SIN, no popular chamado de Linhão, onde qualquer produtor e consumidor de energia elétrica com acesso ao SIN podem, ao mesmo tempo, fornecer e consumir energia elétrica do sistema.
A possibilidade de se vender energia elétrica para o SIN vem transformando o setor elétrico de forma surpreendente. Ocorre que toda geração de energia que possa ser produzida de forma rentável, segundo uma curva de oferta e demanda, poderá entrar nesse mercado e usufruir dessa nova alternativa comercial.
Nesse contexto, as indústrias que tinham por missão a produção de algum bem que utilizava matéria-prima de origem florestal, o que conseqüentemente gerava um resíduo com poder calorífico, adquiriu naturalmente potencial para adentrar nesse promissor mercado. Assim indústrias de móveis, de compensados, de laminados ou até mesmo as simples serrarias de antigamente, podem, com a queima do pó-de-serra e de aparas, que sobram da sua produção, ofertar energia elétrica para o SIN.
Essa oferta de energia a partir da queima das sobras da produção principal vem crescendo sua participação na composição da renda bruta das empresas, ano após ano, a taxas animadoras.
Uma vez que o setor florestal pode se transformar em importante fornecedor de energia elétrica, a Amazônia, região onde se encontra a imensa maioria das florestas nacionais, amplia seu importante papel estratégico na oferta de energia elétrica, indo além das contestáveis e, ao mesmo tempo, consagradas hidrelétricas ao entrar no ciclo virtuoso da geração de energia elétrica, a partir de biomassa florestal.

E no Acre:
                Priorizar a geração de energia elétrica nos estados amazônicos nos quais existe potencial comprovado para aproveitamento der outras fontes não será tarefa fácil. No Pará e em Rondônia, por exemplo, onde há um vasto caminho para instalação de hidrelétricas e dadas as dimensões que o investimento no aproveitamento da força das águas exige, pensar em fontes como a biomassa florestal pode parecer devaneio.
                Por outro lado, em regiões onde a geração de energia elétrica, por meio das águas, dos ventos e do sol é comprometida por razões naturais, restaria a opção única de se continuar gerando energia elétrica com a queima de óleo diesel, ou partir para outro tipo de combustível, no caso a biomassa florestal.
                No Acre não há rios com vazão e desnível suficientes para a instalação de hidrelétricas. O vento, por sua vez, não circula em velocidade suficiente para mover os cataventos dos parques eólicos que enfeitam a paisagem do nordeste. Apesar de o calor ser quase insuportável, o sol não aparece em quantidade e na qualidade demandada pelos painéis fotovoltaicos que captam a energia solar.
                Com alternativas restritas, o Acre possui opções igualmente restritas, a não ser a geração de energia elétrica com a queima de combustíveis, que podem ser fósseis (como o óleo diesel que se pretende banir) ou renováveis como a biomassa florestal, que além de abundante pode ser produzida de forma sustentável.
                No entanto, para se planejar a entrada da biomassa florestal na geração de energia elétrica, na escala que a quantidade existente dessa biomassa pode ofertar será necessário que os agentes públicos, os acadêmicos, pesquisadores e a iniciativa privada se debrucem na busca de respostas para uma série de questões.

Questões para a rodada de discussão:
1.       A quantidade de pó-de-serra e aparas oriundas do processo produtivo nas indústrias de base florestal são suficientes para gerar energia elétrica, na quantidade demandada pelas cidades do interior e pela capital Rio Branco?

2.       Os custos relacionados à coleta e transporte de ouriço ou sobras do processo de exploração de árvores no interior da floresta, são compatíveis com a renda obtida na venda da energia elétrica?

3.       As indústrias florestais precisam investir muito na compra da caldeira e na sua adequação para fornecer o novo produto: energia elétrica. O balanço é favorável?

4.       Caldeiras com maior eficiência energética, disponíveis no mercado, conseguem um rendimento favorável em termos de calor queimado e energia produzida?

5.       A preparação prévia da biomassa florestal, na forma de briquetes, por exemplo, melhora a eficiência energética no momento da queima na caldeira?     

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