* Ecio Rodrigues
A Amazônia sempre teve papel proeminente na matriz
nacional de energia elétrica, já que 70% da energia gerada no Brasil são
provenientes de hidrelétricas. Agora, a região deve se preparar para as inovações
que advirão, diante da imposição legal de universalização do atendimento.
Ocorre que, se por um lado, a construção de
hidrelétricas tem importância significativa na produção de riqueza na região – seja
durante a obra, seja no período de tempo indeterminado de produção de energia
elétrica –, por outro lado, o aproveitamento da força das águas encontra limitações
para o atendimento das populações isoladas.
A despeito das diversas definições conferidas ao termo
“comunidades isoladas”, essas populações têm em comum a condição de não dispor
de acesso ao Sistema Interligado Nacional, SIN; por essa razão, dependem da
energia elétrica gerada nas proximidades de sua localização.
Essas populações não têm acesso ao SIN porque o
transporte do produto energia elétrica até a respectiva comunidade isolada é
mais caro que a instalação de alguma fonte de geração na própria localidade. Em
tal contexto, portanto, a busca por opções de geração de energia adequadas ao
potencial existente em cada localidade se torna uma prioridade para a política
pública.
Onde ocorrer suficiente força de vento – como no caso
do litoral do Amapá –, deverá ser dada primazia ao aproveitamento da energia
eólica, oriunda da velocidade e permanência dos ventos, de forma independente
ou conjugada com outras fontes.
Da mesma forma, nos locais onde eventualmente houver
sol em quantidade e periodicidade satisfatórias, a preferência deverá ser pelo emprego
da energia solar, em conjunto com outras fontes.
E, finalmente, num estado como o Acre, onde não há
vento e sol com potencial de aproveitamento, mas existe biomassa florestal em
quantidade passível de ser manejada para queima em caldeiras e geração de
energia elétrica, essa fonte – que é adequada aos ideais de sustentabilidade como
o são a solar e a eólica – deve ser objeto de prioridade pública.
É bem provável, por sinal, que a biomassa florestal
seja a fonte de energia elétrica mais abundante na região. Além da fartura de
biomassa florestal, a outra boa notícia é que já existe tecnologia apta a possibilitar
tanto a produção florestal de matéria-prima para a queima quanto a construção
das caldeiras.
Vale dizer, em termos tecnológicos, não há empecilhos que
obstem o aproveitamento da biomassa florestal para a geração de energia
elétrica.
Afora sua extraordinária importância para o
atendimento das populações isoladas, a queima da biomassa florestal para fins
energéticos surge também como importante atividade econômica, na medida em que a
energia elétrica produzida pode ser vendida ao SIN.
De fato, mesmo com a construção de novas hidrelétricas,
a demanda crescente por energia elétrica tornará a oferta desse produto um
excelente negócio pelos próximos 20 anos, no mínimo. O que significa dizer que os
produtores que puderem gerar energia elétrica, pelas características próprias
de sua atividade produtiva, certamente irão entrar nesse negócio.
Por fim, a geração de energia elétrica por meio da
biomassa florestal possui um diferencial frente às outras fontes, que merece
atenção da política pública: o potencial para criar e consolidar um conjunto de
atividades econômicas em cascata.
A produção de energia elétrica com biomassa florestal
solidifica aglomerados econômicos num setor produtivo novo e sustentável.
Melhor, impossível.
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